PM’s cobram para trabalhar no interior...


Por Andrey Ricardo, via Jornal De Fato

O arrastão praticado por um grupo armado em Janduís na terça-feira passada, 10, trouxe à tona o velho problema da falta de segurança nas cidades do interior e uma grave denúncia feita pelo prefeito da cidade, Salomão Gurgel. Ele afirma que vem sendo pressionado há vários anos pelos policiais militares da cidade a pagar propina para que eles executem suas atividades de policiamento. As cobranças de pagamento são constantes e teriam sido mencionadas por policiais novamente após o arrastão da terça.

Salomão Gurgel está completando seu segundo mandato à frente da Prefeitura de Janduís, cidade distante 101km de Mossoró, e diz que as pressões para pagamento de propina começaram logo no início do seu mandato e continuam até hoje. A cobrança, segundo ele, é feita pelos policiais que são designados para trabalhar no município. Os valores cobrados variam de acordo com a patente. A cidade de pequeno porte tem à frente um sargento que coordena um grupo de soldados. Para os sargentos, segundo o prefeito, o valor cobrado varia entre R$ 600,00 e R$ 800,00 mensais.

Os soldados, cada um, custam cerca de R$ 200,00 mensais. Sendo assim, numa cidade como Janduís o prefeito teria de pagar aproximadamente R$ 2.000,00 mensais, contemplando seis soldados e um sargento. Salomão faz questão de dizer que, apesar das constantes pressões que tem sofrido ao longo desses oito anos que administra a Prefeitura de Janduís, nunca pagou a propina. “Além da assistência (feita oficialmente) que a gente já dá, através de uma parceria mantida legalmente com as forças policiais, ainda querem mais uma ajuda financeira”, reclama, revoltado, o prefeito.

A assistência a que se refere Salomão Gurgel é com relação ao mantimento dos policiais, do prédio, da viatura e dos equipamentos de trabalho, como computador, por exemplo. A segurança é uma atribuição específica do Governo do Estado, mas é exercida também pelas Prefeituras, como uma forma de auxiliar o Governo e melhorar o rendimento das forças de segurança. Os custos são variados. Em Janduís, segundo o prefeito, existe um convênio entre o Município e a Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (SESED), que oficializa as ajudas dadas aos policiais.

A Prefeitura custeia a alimentação (café, almoço e janta), o que gera aproximadamente R$ 2 mil de custos mensais, reposição de peças para as viaturas, como pneus e outros, doação de equipamentos, manutenção do prédio e outros. “Só isso já nos dá um custo muito alto”, reclama Salomão, disparando: “Nós fazemos tudo isso e não temos a segurança que precisamos para os nossos munícipes”. “Os policiais, quando chegam aos nossos municípios, já vêm perguntando quando será pago ao sargento e aos soldados pelos prefeitos. É uma prática bem comum, infelizmente”, reclama.

Ainda segundo a denúncia feita pelo chefe do Poder Executivo de Janduís, esse costume de cobrar propina para prestar segurança à população é feita com o conhecimento dos superiores. A PM na cidade de Janduís, por exemplo, é subordinada ao Batalhão de Patu, cidade próxima, que já é subordinado a outras instâncias na Polícia Militar, chegando ao Comando-Geral, que é o administrador maior da PM. Ele não detalha, no entanto, até que ponto vai esse conhecimento dos superiores. “Nossa polícia chegou a esse ponto com a complacência dos gestores”, complementa o prefeito.

População já pagou dinheiro extra a PMs

Com a recusa do Executivo em ceder às supostas pressões feitas pelos policiais militares que trabalham ou já trabalharam na cidade, a própria população já se reuniu e juntou o dinheiro para pagar os PMs.

Salomão Gurgel não informou com precisão a época em que isso ocorreu, mas garante que as pessoas davam uma certa quantia e todo o dinheiro apurado era entregue ao comandante do Destacamento da Polícia Militar no município. “Um dava cem (reais), outro dava (dez) e ia juntando até chegar o valor cobrado pelos PMs”, diz.

Ao ser questionado sobre melhorias na segurança com o pagamento do dinheiro extra, o prefeito é enfático e nega ter percebido qualquer avanço. Para ele, os policiais receberam o dinheiro por um determinado tempo e a cidade continuou sofrendo com a violência.

“A população já se reuniu e arrecadou dinheiro, fazendo essa doação por conta própria. Cada um dava o que podia e repassava esses valores para os policiais. Não melhorou em nada quando isso foi feito.”

Postado por SD Glaucia

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